A BÍBLIA CONDENA O PORTE DE ARMA DE FOGO?
- Eguinaldo Hélio de Souza

- 26 de mai. de 2023
- 4 min de leitura

O assunto do desarmamento e porte de armas invadiu a pauta da sociedade brasileira. Um assunto que na maioria das vezes esteve restrito às lideranças políticas e aos círculos de especialistas em segurança pública, de repente invadiu a arena e tem produzido discussões acaloradas. Em parte, isso é o resultado da recente politização da população, que tem trocado o interesse pelo futebol pelas discussões pelos assuntos políticos da nação. Por esse motivo, como geralmente acontece, a igreja é chamada a se manifestar. O que se pode dizer sobre isso, dentro de uma perspectiva cristã?
QUESTÕES A CONSIDERAR
Por nossa herança pacifista, rejeitar o uso de armas é reação imediata. Cristianismo e armas de fogo não combinam. Simples assim.
No entanto, algumas perguntas tem provocado muita reflexão: A quem interessa o desarmamento da população? Por que muitos, inclusive cristãos, tem se posicionado contra do desarmamento? O Estado, mesmo que quisesse, poderia proteger a população? Se não pode, então, o que fazer? O aumento de homicídios no Brasil não justificaria os cidadãos armarem-se para salvar suas famílias? O cristão, como cidadão, deve sempre se opor ao porte de armas?
A ideia deste texto não é definir, mas apenas colocar na mesa os pontos que envolvem as Escrituras e o porte de armas.
A BÍBLIA, ARMAS E O CIDADÃO COMUM
É óbvio que a Bíblia não falará de armas de fogo, pois tais instrumentos não existiam nos tempos bíblicos. No entanto, espadas, lanças, flechas e outras “armas brancas” eram comuns. Creio que ao lidarmos com o porte de armas podemos fazer um paralelo entre as armas dos tempos bíblicos e as armas que dispomos atualmente. Não se trata do tipo de arma, mas se essas podem ser usadas por civis como instrumento de defesa pessoal. Que princípios podemos extrair das Escrituras a respeito desse tema que nos ajude a navegar no mar das opiniões? Que lado da questão nos compete?
O primeiro ponto a ser considerado é que esse debate não nasceu da interpretação de alguma passagem bíblica. É uma discussão, à princípio, da esfera da cidadania, do relacionamento entre o governo e os governados.
No Brasil, o tema começa a emergir em 2005, quando ocorre o plebiscito sobre o porte de arma. A pergunta a ser respondida era: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. A expectativa era que a resposta do brasileiro fosse um sonoro “sim”. Nosso pacificismo tendia para isso.
Surpreendentemente quase 64% da população foi contra a proibição. E ainda que na prática o porte de arma tenha se tornado extremamente difícil, esse fato passou a provocar inúmeros debates.
A verdade é que com a internet e as redes sociais, na época, principalmente o email, as informações e discussões saíram da esfera da inteligência e chegou às massas. E inúmeras perguntas e afirmações começaram a circular. Por que esse interesse tão grande em desarmar a população? Por que a cultura de massa constantemente inseria o tema em seus roteiros, super dimensionando os acidentes com armas de fogo? E que garantia havia que os criminosos, na mão de quem as armas eram de fato perigosas, não se aproveitariam de uma população desarmada? Os governos totalitários como nazismo e comunismo haviam desarmado a população antes de assumir o poder absoluto. Não seria isso que estava acontecendo? Uma população desarmada é uma população refém, seja de criminosos, seja de um governo inescrupuloso.
O QUE DIZ O ANTIGO TESTAMENTO
Qualquer pessoa que leia o Antigo Testamento, seja a lei mosaica, sejam outros escritos, perceberá que a questão de portar armas para defesa de si ou da família era encarado como atitude normal. Até mesmo em defesa da propriedade (Êxodo 22.2) ou vingando um homicídio (Números 35.27) aquele que matava essa pessoa era inocentado.
A defesa pessoal, fosse da propriedade, da família e mesmo da própria vida era visto como uma justificativa mais do que justa para que o indivíduo se armasse. É o que vemos, por exemplo, no caso de Neemias, cujo contexto era de fragilidade e vulnerabilidade. O fato dele, como governador, ser incapaz de atender a demanda por proteção, fez com que ele exortasse toda a população a se armar e lutar por sua segurança.
Pelo que pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus o povo, pelas suas famílias, com as suas espadas, com as suas lanças e com os seus arcos. E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, nossas mulheres e vossas casas. (Neemias 4.13, 14)
Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; (Neemias 4.17, 18)
... cada um com suas armas ia à água (Neemias 4.23)
A verdade é que o desarmamento da população foi uma das estratégias usadas pelos filisteus para manter o povo de Israel subjugado. Não permitia que houvessem ferreiros entre eles para dessa forma impedir a criação de armas, mantendo-os cativos (1 Samuel 13.19). O caráter belicoso do contexto vétereo testamentário faz do uso de armas um lugar comum. Para aquela cultura era natural possuir armas e defender-se com ela caso necessário.



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