A BÍBLIA CONDENA O PORTE DE ARMA DE FOGO?
- Eguinaldo Hélio de Souza

- 10 de jun. de 2023
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O QUE DIZ O NOVO TESTAMENTO
Como sob certos aspectos o Novo Testamento se sobrepõe moralmente ao Antigo é comum se buscar uma reprovação do porte de armas em suas páginas. Todavia, o máximo que poderemos extrair é orientação pessoal para que o cristão não se vingue e nem retribua o mal com o mal.
Aqueles que pensam ter apoio para a proibição de porte de armas baseados no sermão da montanha se enganam completamente. Se o sermão da montanha fosse adequado para conduzir a legislação de um país, semelhante à sharia islâmica, então seria uma legislação muito estranha. Pois nesse caso teríamos de ter uma lei obrigando a entregar ainda mais pertences durante um roubo e a se sujeitar a mais agressões depois de agredidos (Mateus 5.38-40). É óbvio que essa não era a intenção do sermão, que servisse de base para legislações civis.
Mesmo que cristãos aplicassem literalmente tais preceitos a qualquer situação, ainda assim seria inapropriado obrigar toda uma sociedade a viver dessa forma! É preciso compreender que o Novo Testamento não inclui um código de legislação civil como acontecia com a lei mosaica. Portanto, nossa disposição para sofrer o mal nada tem em comum com a questão da permissão do cidadão de defender-se em quando atacado.
Ainda é necessário considerar que o uso de armas por parte das autoridades é plenamente sancionado pelo Novo Testamento e não há nenhuma menção de que um cristão revestido de autoridade deva estar menos armado que um não cristão revestido dessa mesma autoridade. João Batista exortou aos soldados apenas que não usassem de violência gratuita e não se deixassem corromper pelo suborno (Lucas 3.14). O uso da espada pelas autoridades foi compreendida como parte da ação divina na delegação de autoridade aos governos constituídos (Romanos 13.1-7). A conversão do carcereiro não parece ter levado o mesmo a abandonar seu trabalho e seu uso de armas (Atos 16.27-36).
Temos da parte de Jesus um momento muito peculiar quando ele mesmo ordena aos seus discípulos que adquiram uma espada:
Disse-lhes, pois: Mas, agora, aquele que tiver bolsa, tome- a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua veste e compre-a; porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento. E eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta. (Lucas 22.36-38)
Sobre essa passagem comentou Champlin
Outros intérpretes creem que durante aquele período de grande tensão mental, por causa das diversas ameaças dos líderes civis e religiosos a ecoar em seus ouvidos Jesus permitiu que se tomassem algumas medidas de proteção física em favor de seus seguidores, razão porque permitiu ou recomentou espadas.
De igual modo, o judeu messiânico David Stern assim comenta a respeito dessa passagem:
Desta vez os discípulos ainda serão protegidos, mas as circunstâncias mudariam. A prudência e as considerações práticas desempenhariam um papel mais importante: capas, bolsas e espada romana eram o equipamento padrão, especialmente na estrada, onde salteadores representavam uma ameaça à vida.
Alguém pode alegar que Jesus repreendeu a Pedro por ter usado a espada contra o servo do sumo sacerdote e que naquela ocasião Jesus disse a ele que quem fere com a espada com a espada será ferido. Todavia, não se pode negar que Pedro tinha uma espada (João 18.10) e que esse simples fato demonstra que não houve nenhuma proibição por parte de Jesus nesse sentido. Era impossível que Ele não o soubesse ou que sabendo não o proibisse fosse esse o caso.
PONTOS A PONDERAR
Quando se fala em porte de arma muitos cristãos pensam que isso obrigada a todas as pessoas a portar uma arma. É óbvio que não. Os que defendem o porte de arma entendem que isso está relacionado à liberdade dos cidadãos. Ninguém é obrigado a possuir uma arma, mas não pode ser proibido de possuir uma. Isso é liberdade.
Alguns acreditam que isso é uma incitação à violência. Todavia, a ausência do porte de armas para cidadãos comuns tem motivado a violência por parte de criminosos que sabem que terão pouco resistência. Com certeza a arma na mão de um criminoso está destinada a finalidades diferentes das armas nas mãos de cidadãos de bem.
O maior argumento usado diz respeito ao mau uso dessas armas, mesmo nas mãos de um cidadão de bem. Suicídios, acidentes domésticos, atos violentos em momentos de conflito e ira. Sem dúvida alguma que todas essas ocorrências são possíveis. Todavia, esses fatos já ocorrem sem as armas de fogo e não significa que vão piorar com o porte das mesmas. No entanto, é preciso o perigo da ousadia dos criminosos, um perigo certo para a população desarmada, muito mais certo e muito mais letal do que outros perigos que o porte de armas pode produzir.
Nada obriga um cristão a portar uma arma ou ferir uma pessoa. Todavia, qualquer pessoa coerente se sentiria culpada de não proteger sua família caso pudesse fazê-lo. Jamais veria isso como violência gratuita. Apenas uma forma de cumprir seu papel como homem, como cidadão, como pai.
O fato é que se o governo proíbe a possibilidade dos cidadãos de defender a si mesmos, então tem o dever de garantir a eles segurança plena. E caso não seja capaz de proteger os bens e mesmo a vida de seus cidadãos, então cabe a ele indenizar a todos por roubos ou qualquer danos à sua vida. Essa é a lógica. Proibir alguém de defender-se e abandoná-lo à mercê de pessoas bem armadas e mal intencionadas não é governar, é oprimir.



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